segunda-feira, 18 de abril de 2011

COTIDIANO




Da minha janela, no quarto andar, dava pra ver muito bem a vila quase em frente, do outro lado da rua.
Era manhã de verão, verão intenso, quente, e aquela figura, seminua, deitada no telhado da casa me chamou atenção. O sol realmente estava convidativo para um bronzeado, mas não era o caso dela.
No corredor, que na verdade era uma escadaria que subia até a última casa, um ou outro morador que descia, ou subia, olhava aquela figura tão branca exposta ao sol, tendo em seu corpo apenas algo que se assemelhava a uma calcinha de algodão.
Olhei para o relógio da cozinha, 9 horas. Comecei a preparar o almoço, tinha agendado limpar os armários e isso demandaria tempo.
Meio dia, o almoça já está à mesa; olhei pela janela da cozinha e ela continuava lá, branca, inerte, deitada sobre o telhado da segunda casa da vila.
As crianças chegaram para o almoço e eu voltei às minhas tarefas domésticas. Quando terminei a arrumação do último armário, o relógio já marcava quatro horas da tarde. Fui pra cozinha fazer um café. Ao pegar a cafeteira que fica numa prateleira próxima à janela, instintivamente olhei pela janela pra ver se ela continuava no telhado. Não estava mais. Agora ela se encontrava vestida com seu vestido de chita, que também fora lavado, protegida no colo da sua dona, uma menininha ruiva de quatro anos, mais ou menos, que com um carinho materno refazia as tranças do seu cabelo loiro. Sorri; como é bom ser criança.

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